Em quais aspectos o senhor acredita que a crise econômica afetará as igrejas e os evangélicos?
Dependendo do modo como lidarmos com a crise, poderá ser tremendamente benéfica, mas se construirmos torres de marfim, elas ruirão. Talvez a suntuosidade e a opulência não convenham para este momento. A Igreja é uma instituição feita para as pessoas e não ao contrário. Levamos conosco a tendência de ver as pessoas como provedores do nosso crescimento e suntuosidade. Na realidade somos prestadores de serviços como ensino, louvor e direcionamento. Devemos fazer isto administrando bem o dinheiro para oferecer estes itens com uma qualidade melhor. Quem sabe a simplicidade do Evangelho seja alvo de uma retomada de valores e objetivos que envolvam investimentos maiores no Evangelho propriamente dito. Deus não precisa de templos suntuosos ou de cadeiras estofadas, isto é para nós, ele quer corações. A crise que devemos temer não é financeira, mas a espiritual e a moral, nesta já entramos há muito tempo, e talvez sejamos um freio de pastilhas gastas.
E a indústria de produtos para cristãos será afetada?
A Indústria das respostas e o comércio de almas descrito em Apocalipse 18, certamente entrará em erupção vulcânica e se nos calarmos, eles vão faturar, e muito. Como Martin Luter King, não devemos temer a ação dos aproveitadores, mas o silêncio dos justos. Falo da perfumaria gospel, este tipo de coisa que nos fantasia de crentes, e até mesmo nos marca, mas não transforma nossas vidas e muito menos nos prepara para “o dia mau”. Adornos, estatuetas, quadros, pulseiras e bottons. Esta indústria cresce na esteira do embalo desta “geração gospel”, que se prende ao supérfluo e despreza a essência. Talvez a crise venha a revelar a superficialidade cultivada por anos a fio, nos mostrar onde realmente estamos e nos revelar para onde precisamos ir.
Enquanto administrador da editora, como o senhor enfrenta este tipo de crise financeira?
Com criatividade, empenho e fé. Dando ao povo um tipo de roupagem que precisa vestir, o que nem sempre combina com o que ele deseja comprar. Um evangelho utilitarista não convém nestas horas, pois Jesus não nos chamou para sermos prósperos, mas para sermos fiéis. Nestas horas somos tentados a pegar um atalho, subir no pináculo do templo e abraçar o mundo com as pernas. É só mais uma concessãozinha!!!!! Um dia desses vi um “Homem de Deus” cercado por 12 seguranças, Meu primeiro impulso foi imaginar que precisava de todo aquele aparato de proteção porque estava devendo algo para alguém. Pensando melhor, concluí que ele ficou um pouco confuso por não ter conseguido os 12 discípulos almejados e contratou aqueles guarda roupas para andarem ao seu lado. Não sei qual das duas conclusões é a mais nefasta, mas sei que este tipo tende a proliferar em tempos de crise, cuidado com eles.
O senhor disse em seu texto acreditar que a crise trará oportunidades. Que oportunidades são essas?
Os hospitais são beneficiados e faturam mais quando há um surto de doenças para as quais estão preparados. A Igreja tem a resposta definitiva para todos os problemas existenciais e deve informar a todos da existência e dos benéficos do remédio estocado em suas prateleiras. Velhas soluções para problemas novos não ajudarão, é preciso contextualizar. Já passamos muito tempo respondendo a perguntas que ninguém fazia, agora é hora de entender o coração de quem devemos atingir.
Ora em apocalipse lemos que o anticristo surgirá de uma crise, quem sabe não é esta? Já tem até gente colocando chifre e rabo no Barack Obama. O Reino das trevas se instala e se consolida às custas da crise, por isto ele a promove. O nosso papel é destruir as obras do diabo. Vamos aproveitar a crise para que todos saibam que só Jesus é Deus e que os Reinos deste mundo foram entregues ao Senhor e ao seu Cristo.
Qual é em sua opinião a verdadeira solução para a crise?
Dizem que dois representantes foram enviados para um país distante, visando a implantação de uma fábrica de sapatos. O primeiro, depois de algum tempo deu a sua opinião: Não vai dar, aqui ninguém usa sapato. O outro também deu a sua opinião e disse: Vai dar e muito!!! Aqui ninguém usa sapato, o que faz com que o mercado se potencialize. A história fala por si mesma, e Jesus disse que os olhos são a lâmpada do corpo e se forem maus, todo o corpo será mau. Se olharmos para a crise sob uma perspectiva pessimista, ela nos engulirá
Nestes momentos o que o cristão deve fazer? Quais são os devidos cuidados a tomar?
A Igreja não deveria se concentrar em promover mudanças de costumes, mas em promover a transformação de corações. Se conseguirmos isso, que é o nosso objetivo maior, estaremos satisfeitos, mas se conseguirmos crescer financeiramente, sem mudar os costumes, é melhor fechar as nossas portas e partir para outra. O aspecto comercial acompanha naturalmente a ação das Editoras Cristãs, mas não é o principal. Não somos livres para exercer a criatividade, pois esta limitada pelos princípios da Palavra, pelo amor ao próximo, pela preocupação com a sua vida espiritual e principalmente pelo temor de Deus.
Patrícia Grosman
Vitória - ES
29042-570