MÉTODOS CABALÍSTICOS
Esses métodos, em sua maioria, usados em algumas igrejas, visando o rápido crescimento numérico, são importados. É muito comum ver pregadores estrangeiros entre nós “ensinando” as mais novas leis para o crescimento congregacional. Para algumas pessoas, isso é uma verdadeira obsessão.
Vimos, um dia desses, na TV,5 um cidadão anunciando certo seminário teológico. Foi prometido que, ao final de noventa dias de um curso por correspondência, o aluno receberia um diploma, credenciais pastorais, ordenação, unção (sic) e o conhecimento para aumentar rapidamente uma congregação de 50 membros para 500! Tudo isso dividido em seis vezes sem juros no cartão. Como a TV é um instrumento caro, deduzimos que alguém deve estar comprando isso. E se o resultado desse tipo de coisa já é péssimo hoje, no futuro poderá ser catastrófico.
Vamos recorrer, mais uma vez, para enfatizar nossa tese, à citação de um debate sobre o tema transmitido pelo rádio. Certo pastor comentou que há vinte anos fundou uma igreja com um grupo de vinte outros irmãos e, decorridas duas décadas, essa igreja tem cinquenta membros, o que, de certa forma, o deixa frustrado (uso este exemplo porque, como disse, se tornou público pela transmissão).
Não conhecemos o pastor referido, portanto qualquer comentário particular, mesmo elogioso, seria leviano. Mas queremos analisar o exemplo em si, pois nos parece emblemático. A primeira questão a ser levantada é: o fato de a igreja ter sido fundada há vinte anos com vinte membros e hoje ter “apenas” cinquenta faz desse ministério um fracasso? (em nenhum momento o pastor disse que achava que fosse); a segunda questão é se existe um padrão numérico de crescimento que determina o fracasso ou sucesso de uma igreja.
Vamos analisar o exemplo dado por outro prisma para procurar responder à primeira questão, ou seja, o crescimento numérico determina fracasso ou sucesso? Vamos usar então a mesma lógica que os defensores do crescimento a qualquer custo usam. Digamos que há vinte anos uma igreja qualquer tivesse dois mil membros e hoje cinco mil. Provavelmente, teríamos aí um exemplo de igreja que cresceu explosivamente, talvez fosse até visitada por líderes evangélicos ansiosos em aprender sobre os métodos que ali foram utilizados, e então implantar os mesmos métodos de crescimento em suas comunidades locais.
Mas se examinarmos a questão pelo mérito matemático, salta aos nossos olhos que ambas as congregações cresceram duas vezes e meia em vinte anos, logo a taxa de crescimento foi rigorosamente igual. Mas aí, ao que parece, o que importa é o numero per si. Uma espécie de numerolatria, o número pelo número, uma obsessão pelo status que o crescimento numérico traz (o que não é o caso do debatedor citado, muito ao contrário, um rigoroso opositor desse tipo de ensino). Estamos diante da aplicação de dois pesos e duas medidas diferentes para o mesmo caso em análise.
O crescimento numérico passou a ser usado como referendador de todo tipo de prática. Para muitos, não importa o que esteja sendo dito ou feito em tal grupo; se estiver crescendo é um sinal inequívoco que Deus está no meio deles. Nunca ouviram dizer que a maioria não é critério usado por Deus para manifestar sua vontade (Êx 23.2)? Mas ai de quem esboçar opinião contrária: será primeiro convidado a ficar do lado da maioria (1Rs 22.13), caso recuse, será então acusado de desdenho ou de inveja. Mas isto não deve intimidar quem tem compromisso com a Palavra de Deus.
Moisés Veríssimo, autor do livro "O Fermento dos Fariseus", próximo lançamento da editora Naós.
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